quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

QUESTÃO SEM NEXO

Por: Lucas Rodrigues Almeida


Familiares, amigos e conhecidos costumam me questionar qual seria a minha orientação sexual. Nunca compreendi bem porque minha orientação atrai mais atenção das pessoas do que meu caráter e minhas atitudes. Hoje já me acostumei com esse tipo de questionamento (ou dúvida?) e não vejo mais problemas em responder quando me perguntarem:  Lucas, qual é a sua orientação sexual?

Irei te responder sem receios. Ainda não fiz essa pergunta a mim mesmo. Te juro que nunca me questionei. Risos. Por isso, só posso te responder que sou bem resolvido e bem feliz nas minhas escolhas. Não gosto de qualificar ninguém quanto à orientação sexual. Acho tão imaturo quem é adepto dessa prática.

Digamos que não sou devoto de rótulos apesar de achar essenciais em supermercados. O que seria dos produtos nas prateleiras sem os rótulos? Iríamos comprar leite para o café da manhã e quando chegássemos às nossas casas descobriríamos que compramos extrato de tomate. Não se desespere caro consumidor, pelo menos o molho da macarronada do almoço estaria garantido naquele dia. Concordo que seria uma completa confusão nas compras de produtos nos supermercados, mas acho desnecessário rotular seres humanos. Qual seria a finalidade? Separar pessoas por grupos como os produtos são organizados nas prateleiras dos supermercados? Enfim, não vejo utilidade em classificar pessoas.

Depois acredito que exista nas pessoas algo mais interessante para ser observado do que sua orientação sexual, ou seja, o interior do ser humano. Não compreendo o porquê que os indivíduos se preocupam e oferecem certa importância aos interesses afetivos alheios. Deve ser porque essas pessoas não conseguem resolver os problemas da sua própria vida afetiva e acreditam que questionando a dos outros adquiram experiência para os seus dilemas amorosos. Enfim, existem tantas coisas a serem observadas e comentadas, mas as pessoas se atentam com coisas tão fúteis quanto à preocupação pela orientação sexual de alguém. Ou a resposta vai interferir em alguma coisa?

Acredito também que pessoas bem resolvidas tem escolhas bem definidas. Por isso, considero a minha sexualidade bem resolvida e, assim, não preciso ficar me questionando para suprir a curiosidade de ninguém. Não vejo necessidade nisso.

Acredito ainda que tenho escolhas bem definidas. Faço Licenciatura em Letras, porque acabei me afeiçoando pelo curso e não pela quantidade de dinheiro que acredito que devo ganhar. Quero ser bom no que faço e o dinheiro é a consequência do meu trabalho e decorrente da minha boa administração. Outro fator que me considero bem resolvido é em relação às amizades que adquirir. Tenho amigos de todos os tipos: que usam drogas lícitas e ilícitas; morenos, loiros e ruivos; escuros e claros; virgens e sexualmente ativos; ateus, católicos, evangélicos e que frequentam o candomblé; heterossexuais, gays e lésbicas... não vejo problemas nisso e nem tenho vergonha dos amigos que tenho. Se os escolhi é porque existe algo neles que me cativou. Atenção! Sinto muito, mas não irei destruir a minha amizade com nenhum deles porque você não gostou de uma dessas descrições e também não me preocupo com o que a você está pensando agora de mim.

Sou vacinado, pago minhas contas e sei onde estou pisando. Sei que ninguém influência ninguém. Porque se alguém já se embriagou, fumou cigarro, usou maconha ou já teve uma relação homoafetiva, não significa dizer que essa pessoa foi influenciada por más amizades. Ninguém é obrigado a fazer algo que não senti vontade de fazer. Ou você defende aquele ditado preconceituoso que diz: diga-me com quem tu andas que direi quem tu és? Se, de fato, esse ditado for verdadeiro, eu sou a exceção. Tenho as minhas necessidades próprias e acredito que você também deve ter as suas. Pergunte a um heterossexual se ele beijaria alguém do mesmo sexo? Ou a um homossexual se ele transaria com uma mulher? Ou ainda a um dependente químico se quando ele usou pela primeira vez não foi por curiosidade? Finalmente, chegamos a palavra-chave a curiosidade. A resposta está na curiosidade e não na influência de alguém. Ou você nunca foi jovem e não teve as suas curiosidades?

Agora, eu me pergunto: você ainda está ansioso(a) para saber a minha orientação sexual? Ela está bem resolvida e eu, hoje, me considero feliz nas minhas escolhas. Sim, eu estou feliz. Então, isso é suficiente pra mim. Agora, tenho certeza que pra você também...


Tentei te responder. Juro! Risos. Desculpa, se caso não foi a resposta que você esperava, mas nem toda pergunta deve ser respondida. Ou você já conseguiu responder a célebre pergunta: quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?



(Nota do autor: Quando você questiona um heterossexual com esta pergunta: qual é a sua orientação sexual? Ele provavelmente sentirá afrontado pela dúvida. Quando você questiona um homossexual, lésbica ou algo do gênero que ainda está com a sexualidade mal resolvida, ele certamente omitirá a resposta. Essa pergunta é tão ofensiva quanto à coragem da pessoa em questioná-la a alguém. Por isso, escolhi intitular o texto como Questão Sem Nexo, pois acredito que o esclarecimento da orientação sexual de uma pessoa deve partir dela mesma e não da curiosidade alheia. Ou você nunca observou que todos nós omitimos a nossa orientação? Nenhum heterossexual, homossexual, lésbica... sai com uma placa nas mãos indicando a sua condição).

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